Fausto

Max estava descontente com os rumos de sua vida, desde a separação turbulenta pela qual passara, além da morte de seu único filho, vitima de um atropelamento. Então decidiu comprar uma arma e colocar tudo à prova, embora suasse frio todas as vezes que a empunhava em direção ao espelho simulando um disparo fatal em sua cabeça.
Certo dia, levantou bem cedo e começou a caminhar pela cidade para ganhar ânimo. Andando vagarosamente pela calçada se deparou com uma estação de metrô, então apalpou os bolsos procurando algumas moedas para pagar a passagem. Dentro da estação, desceu às escadas em direção à bilheteria, mas por desatenção tropeçou e viu seu minguado dinheiro voar em frente ao seus olhos, caindo na direção de um sapato de um homem velho. O homem estava vestido com um sobretudo preto, calças também pretas e um sapato recém engraxado que brilhava. Além disso, segurava uma bengala: a ponta inferior tinha a proteção de uma borracha grossa, já na parte superior um apoio para as mãos feitos de prata. Max ficou curioso com o sujeito que lhe devolvia o dinheiro.

– Obrigado pela moedas…
– Não há de que rapaz, mas presta atenção por onde anda…

E desceram mais um lance de escadas em direção à plataforma. Ficaram sentados no banco esperando por um bom tempo, até que Max observou o relógio da estação que estava parado.

– Ué, esqueceram de arrumar?
– Esquisito, mas o rapaz tem pressa do quê?
– Na verdade nenhuma… Estou à passeio!
– E o passeio quase lhe custou o dinheiro, andava com muita pressa… é preciso estar mais atento e sem rapidez nas pernas…
– Foi só um tropeço, poderia acontecer com qualquer um…
– Não poderia, já imaginou se o motorista do carro que atropelou seu filho estivesse menos apressado também?!

Max gelou ao ouvir a frase do velho, que balançava sua bengala como um pêndulo. Então as lembranças vieram a sua mente: o atropelamento de seu filho causado por excesso de velocidade, e que nada pudera fazer para salvar a criança. Max estava ao lado do filho no momento do acidente e só pode encostar no corpo todo moído, e chorar copiosamente sobre ele. O velho sabia de tudo que se passava com Max, pois o observava desde os tempos de infância.

– Como você sabe da minha vida?
– Eu vi…
– Você nunca esteve lá…
– Não precisei,você sempre me contou tudo: quando duvidava das coisas ao seu redor…

O relógio da estação voltou a funcionar com o ponteiro dos segundos dando uma caminhadas sobre as horas. O trem passou e os dois embarcaram. Max não entendia as intenções do velho. Os dois sentaram separados, ficando frente à frente dentro do vagão.

– Ahh, não entendo…
– Não precisa entender, e sim, perguntar como estou aqui, além do porque sempre estive ao seu lado nos piores momentos.

O metrô saiu da plataforma e ganhou velocidade pelos trilhos indo em direção ao túnel. Quando as luzes se apagaram Max ouviu um assobio distante que logo cessou. As luzes voltaram quando chegaram na estação seguinte. Uma multidão estava esperando do lado de fora. Max se deu conta que o velho se aproveitou da escuridão e foi sentar-se ao seu lado.

– Apenas precisa descobrir o que sempre lhe causou dúvidas…

Após dizer isso o velho caminhou em direção à porta do vagão indo de encontro aos passageiros que queriam entrar. Sumiu no meio deles, Max continuou sentado sem mais conseguir vê-lo. Decidiu continuar até a próxima estação e saltar, voltando para casa a pé.
Enquanto andava pelas ruas ia pensando naquele encontro com o velho misterioso. Até aquele momento as peças não se encaixavam. Quando deu por si já estava na porta do prédio onde morava e deu um sinal com a mão para o porteiro, que abriu a porta, entregando-lhe uma correspondência: era uma carta da sua ex-mulher. Ele pegou o envelope e se dirigiu para o elevador. No meio do caminho encontrou com a síndica do prédio, embora não se lembrasse quem era. Como não queria assunto fingiu que não viu e apenas olhava atento os números dos andares por onde o elevador passava. Ele pegou o elevador e desceu no sexto andar, caminhou vagarosamente pelo corredor até chegar ao apartamento 606 e abriu a porta com tamanho desânimo que até o envelope caíra de sua mão. Abaixo-se para apanhá-lo e nesse instante sentiu um vento frio passando por sua nuca, mas as janelas estavam fechadas, além do mais o corredor não tinha qualquer fresta para passagem de ar. Levantou-se e entrou no apartamento, acendeu a luz e caminhou até o sofá para ler a carta: começou, mas não terminou. Apenas olhou para assinatura de Katharina. Jogou o papel sobre a mesa, que estava completamente cheia de livros e revistas.

– Não há mais nada para ser feito. O que deveria fazer não fiz e agora… Agora… Bem, não sei o que será…

Max pegou a carteira de cigarros que estava na pilha de revistas, acendeu e começou a fumar. Se deu conta que as cinzas estavam caindo sobre os livros e abanou, revelando um livro por acaso: “O Pequeno Eyolf” de Ibsen. Max estava lendo a peça para tentar retomar a vida: na história o pequeno Eyolf sofre um acidente quando recém-nascido e seu pai planeja escrever um projeto de consciência humana sobre a responsabilidade. Depois, o pequeno filho morre afogado e o casal entre em crise conjugal. Mais ou menos como acontecera à Max e Katharina. Porém, na obra de Ibsen, o casal retoma o relacionamento superando a perda, e no caso de Max ocorreu o contrário.
Ele pegou o livro e começou a ler em voz alta entre uma tragada e outra para aliviar a solidão. Nesse momento, o interfone toca deixando Max surpreso, pois não esperava ninguém àquela hora da noite.

– Sr. Max, um homem chamado Wagner está aqui.
– Não conhece ninguém com esse nome…
– Ele disse que te conheceu hoje na estação…
– Certo… Peça para ele subir por gentileza.

Max estava confuso, não entendendo como o homem o encontrara. Enquanto pensava a campainha toca.

– A parte da peça sobre a “Senhora dos Ratos”? Você é bem previsível…
– Como é que…
– Posso entrar?!
– Por favor, mas…
– Cuidado com os livros!
– É…

E Wagner sentou-se no sofá e estava vestido da mesma forma do encontro pela manhã. Max ofereceu um café para ele, que não aceitou e pediu uma cerveja.

– Anda muito quente por aqui esses dias, café me tiraria o sono e por sinal já passam das dez horas.
– É verdade… Como descobriu onde eu moro?
– Eu te segui.
– Impossível. O senhor desceu…
– Esqueça o Senhor, tudo bem!?
– Sim. Você desceu naquela estação e pelo que lembro sumiu na multidão!
– Na verdade foi um truque bem esperto: eu apenas dei a volta pelos que entravam. Fui até a porta no fundo do vagão e de lá pude observá-lo.
– Mas com essa bengala…
– Bem, se existe uma coisa que as pessoas ainda sentem piedade são dos velhos não?! É fácil enganar todo mundo com cara de boas intenções… Além do mais esquecem que os canalhas também envelhecem!
– É verdade. Mas por que veio?
– Nada demais. Nossa conversa foi muito curta.
– Você disse que me observava desde minha infância. Como pôde?
– Bem, é uma longa história. Você era o melhor aluno do colégio, mas ao mesmo tempo o mais excluído. Senti um potencial diferente em você…
– Nenhum potencial por sinal, tanto que tornei-me filósofo…
– E disso não há diferença com os demais da sua turma?
– Acho que não, mas também não sei como eles estão…
– Também os observei esse tempos e nada de produtivo saiu deles. Exceto dois ou três.
– Entendo. Mais uma cerveja?
– Aceito.
– Continue, fiquei curioso. Alias, como me observa tanto se eu nunca pude notá-lo?
– Engraçado isso, mas estou sempre por perto e quase não me notam. Acho que alguns estão cegos ou perderam a razão.
– Mas quando disse que eu lhe contava tudo, que nunca mentia, sempre duvidava das coisas…
– Caro Max, as suas dúvidas sempre me fortaleceram em certo aspecto. Quando você se tornou um rebelde contra os dogmas da religião de seus pais, isso ficou claro para mim…
– Eu não me rebelei, apenas não concordava com aquilo que me era imposto… “Isso” se refere ao quê, por exemplo?
– Pois bem, quando você negou a impostura daquilo que não acreditava, se viu sozinho, correto?! “Isso” se refere à sua rebeldia…
– Sim, de certo modo meu círculo familiar era bem fechado…
– Pois é, e minha atenção sobre você dobrou, quando numa noite escura e fria, lia um livro e começou a se perguntar sobre a origem das coisas, da vida, etc.
– Certo, mas já faz tempo. Sobretudo com relação a vida: ainda há mais perguntas que respostas.
– Mas você duvidou do que tinha aprendido a vida inteira de forma dogmática, sem entender muito bem para que servia…
– Verdade. Da dúvida sem querer eu fiz minha razão, até ser posta à prova.
– Embora eu seja um defensor da razão de forma absoluta, creio que o excesso dela trouxe mais prejuízos ao homens do que benefícios…
– Vale uma discussão…
– Milhares de discussões…
– Mas qual é sua intenção com isso tudo?
– Boa pergunta rapaz! Antes de mais nada gostaria de dizer que gosto de cercar-me das melhores pessoas possíveis, para uma boa conversa e divagar sobre tudo.
– Melhores pessoas?
– Eu já vi muita coisa desde que pisei por aqui: o melhor e o pior da humanidade…
– Não entendo… dizendo assim até parece que viveu o suficiente para conhecer a tudo e a todos. E outra: de nada sabemos sobre o que nos reserva o futuro.
– Isso você tem razão: não sabemos nada sobre o futuro. Por isso me resguardo do que há de melhor no “por enquanto”. Todavia tenho uma ressalva para você: quando era jovem queria o futuro a qualquer preço, e hoje vendo seu presente não acredito que tenha acabado dessa forma…
– Foram os acasos, disso eu tenho certeza…
– Max, não foram os acasos que transformam sua vida foram as suas escolhas: o casamento com Kathárina até…
– Estranho, eu nunca disse que fui casado…
– Max, sem tolices! Você rezou sua infância inteira para expiar um pecado que nunca foi seu. Além do mais, para Aquele que você pedia perdão, nada fez por você. E numa noite qualquer me chamou uma única vez, e foi o bastante: queria conhecimento e eu apareci!
– Não pode ser! Não fiz nenhum pacto! Isso é absurdo! É ilusão!
– Max, assim acordará os vizinhos! Seja menos infantil e assustado! Não sou tão ruim quanto pensa…

Max desatou a chorar em desespero. A figura de Wagner não era fruto de sua imaginação desde a infância. A materialização era um acerto de contas, mas ele não podia mais com aquilo. Wagner ganhara vida a partir dele, mesmo que sempre tenha existido.

– Max, tenha calma que nada de ruim pode acontecer agora. Os dados já foram jogados outras vezes e você nem se deu conta!
– Mas não era por vontade minha.
– A sua vontade eu nunca movi um dedo para alterar. Eu apenas observava, e o via afundando com o passar dos anos. Mas nisso, não me coloque como culpado!
– Meu desejo era que nada disso tivesse acontecido.
– Eu sei… Eu sei!
– Eu não tive culpa pela morte do menino. Ele se desgrudou das minhas mãos…
– Max, não se cobre tanto. Foi uma fatalidade…
– Uma fatalidade que levou minha vida inteira naquele instante!
– Você só queria ter um filho para tratá-lo melhor do que foi tratado! Isso quase sempre acontece. Não é novidade no seu caso. Mas o que me causo espanto é nunca ter tentado outro nesse período.
– O meu casamento ficou em ruínas depois disso. Ela me culpava a todo momento, em qualquer briga corriqueira.
– E por que tentou suicídio?
– Eu não sei…
– Não minta!
– Eu queria apenas me desligar das coisas e do mundo. Isto já é o bastante!
– Você não morreria, no máximo ficaria agonizando numa cama qualquer. Suicídio é quase uma arte, somente os mais aptos conseguem realizar…
– Eu tenho potencial…
– Disso eu nunca duvidei. Por isso estou aqui. Veja: como você pensa o pós-morte?
– Não sei. Mas desconfia que não exista Nada.
– Pois é, você está certo em partes. Deixe-me dizer umas palavras: sabe aquela história das boas e más pessoas que são divididas entre paraíso e trevas?
– Diga…
– Pois bem, que somente as pessoas boas vão para o paraíso e as más para a danação eterna?
– Hum…
– Você acha que eu apreciaria alguém incapaz de bons sentimentos?
– Não sei. Acho essa história um pouco confusa.
– Eu também. Mas os homens a criaram, logo é confuso, justamente porque detestam a verdade, não é mesmo?
– Disso está certo…
– A verdade não pode ser superficial: é preciso que se mostre as contradições para depois apresentá-la. Então vejamos, você acredita que qualquer pacto comigo será aceito?
– Acredito que nem haja pacto,somente uma confusão mental que cria algumas condições de sobrevivência e nos faz acreditar que temos alguma força sobrenatural ao nosso lado. E somente ao nosso lado…
– Você é bem perspicaz e não posso te enganar mesmo. Na realidade, não há pacto algum. Existe apenas a minha escolha de quem ficará ao meu lado. Não escolho qualquer coisa Max, também tenho meus gostos…
– Todos têm…
– E por isso eu te escolhi, porque sabia que não era um qualquer…
– Não sei se fico espantado, ou lisonjeado…
– Nenhuma das coisas, porque isso te faria pior que um pastor religioso que se sente acima dos outros por “compreender as palavras sagradas”. Eis o mistério da vida, Max, rejeitar a tirania! Como você bem sabe, eu fui o primeiro “rebelde” não?! E o que encontrei após essa decisão? A liberdade. E com ela descobri o conhecimento sobre todas as artes e todos os assuntos mundanos. O que você fez com sua liberdade? Se enforcou! Não soube fazer nada além de formar uma família, a coisa mais simples de todas. Qualquer sujeito completamente medíocre pode ter uma família.
– Eu tentei. Eu tentei… Mas seus conselhos não me atingem!
– Eu sei! Mas como eu disse: você não soube usar sua liberdade e entregou-se novamente à tirania, só que desta vez para a da família. Incrível!
– Pra mim já basta… Retire-se!
– Retiro-me. Abra a porta por favor. Saio somente por onde entrei sob permissão do anfitrião.

Wagner então levantou-se do sofá sempre observando as reações de Max que parecia perturbado. O velho caminhou até a porta e num longo aceno se despediu. Max bateu a porta e voltou ao sofá pegando a carta que estava jogada sobre a mesa, começou a ler e decidiu ligar para Kathárina que não estava em casa e transtornado caminhou até a escrivaninha para pegar o revolver, que já estava carregado, dentro da gaveta. Sentado no sofá acendeu outro cigarro e observava a arma que estava em seu poder. O revólver brilhava e as lágrimas escorriam sobre ela. Ele tentava de todas as formas se manter firme e não vacilar, mas sempre voltava à mente o desastre da família, o encontro com Wagner e a noite terrível que passou. Terminou o cigarro seguido de um longo suspiro e engatilhou o revólver.

– Weiter, weiter ins Verderben*

Colocou a arma na boca e disparou contra si mesmo sem a menor piedade . O corpo caiu para trás e os braços ficaram pendurados sobre as pernas. O revólver ainda soltava fumaça pelo cano, quando Wagner entrou novamente no apartamento. Apontou com sua bengala em direção à Max.

– Realmente você nunca foi um covarde e tinha potencial…

Uma semana se passou e Max acordou dentro de um quarto escuro, cheio de livros espalhados por diversas estantes. Observou o lugar sem se mexer da cama enquanto Wagner estava sentado em uma poltrona à sua frente lendo um livro.

– Já era hora…
– O que aconteceu?
– Não se lembra?
– Estava no meu apartamento quando peguei a arma e…
– Sim! Sim! Você não se acovardou e está novamente livre!
– Estou morto, isso sim!

Wagner fechou o livro que lia e depositou sobre a mesa que estava ao seu lado. Caminhou mais um pouco em direção à prateleira procurando por seu cachimbo.

– Morto?! Pior é ser esquecido. Estive lendo atentamente esses dias que se passaram, e eu tenho uma proposta para você: voltar à vida e transformá-la por completo, ou apenas viver as coisas de modo repetitivo e nunca morrer, sendo que todos os sofrimentos ou felicidades serão os mesmos eternamente…
– Proposta com apenas com opções pré-determinadas? Que liberdade estranha a sua. Não me parece justo…
– Entendo… Deixo ao seu critério como deve fazer. Entretanto, permita-me apenas uma observação?
– Claro…
– Não perca sua alma por qualquer coisa, ela é muito valiosa! Então deveria voltar e fazer tudo de novo. Você é único que pode mudar o rumo dos acontecimentos
– Não tenho alma. Não sei se estou disposto a retornar e mudar tudo. Estou exausto!
– Tamanha tolice!
– Por que me salvou?
– Porque você é valioso. Não quero inúteis ao meu lado. Procuro os sábios, não os imbecis. Esqueça tudo que ouviu ao meu respeito. Aqui é o reino da sabedoria, não o contrário!
– Tenta me corromper com frases confusas. Se não acredito em Deus, como acreditaria em você?
– Justamente porque você me criou quando não havia mais nada, e aqui estou eu salvando o resto de sua dignidade!
– Se eu o criei, eu mesmo darei seu fim!
– Pode se arrepender amargamente, além de nunca mais ter a resposta que sempre procurou. Max, você foi tolo uma vez atirando em si mesmo. Se me destruir irá encontrar a redenção. A tirania pesará sobre você!
– Por mil demônios, Wagner! Suma daqui! Mil vezes a redenção que suas propostas…
– Nunca se esqueça: Wir müssen lieben bis wir sterben!**
– Você não sabe o que é o amor, porque eu nunca soube…

Então ele sumiu deixando sua bengala para trás. Uma porta no fundo do quarto se abriu e com ela uma luz, que cegava Max.
Algumas trombetas soaram bem distantes: era a sua redenção. Então ele caminhou até a porta, embora não soubesse o motivo. Atravessou-a de um salto e encontrou um reino dominado pela tirania, com pessoas iguais a ele acorrentadas pelo pescoço: as correntes se interligavam chegando até uma nuvem superior que despejava ouro em abundância, mas ninguém poderia tocá-lo. Havia também algumas alamedas com árvores frutíferas, mas ninguém ousava colher. Os pássaros não cantavam, pois era proibida a felicidade. Alguns riachos cortavam a vegetação, todavia não era permitido banhar-se. A redenção significou a submissão.
Alguns anjos tomaram Max pelos braços e o prenderam igual aos outros. As suas roupas foram trocadas por um pano branco que significava a purificação. Entre os acorrentados, não havia qualquer tipo de comunicação e eram obrigados a fazer sempre as mesmas coisas. Enquanto era carregado pelos anjos, que o ensinavam o caminho da peregrinação, ele ouviu uma voz irritada e cansada, era Deus.

– Aqui estão os criminosos, suicidas, desajustados, degenerados, além dos tementes à mim! Vocês terão a eternidade para purificar suas almas! Ich werde immer bei dir sein!***

Deus falava alemão, desde a época da Reforma Protestante. Era cruel e vingativo. Wagner aprendeu alemão durante a Reforma Protestante, para entender as pregações do evangelho feitas por Lutero. Era culto e de bom trato. Max falava alemão desde a época dos estudos de filosofia.
Max entendeu a mensagem divina e não havia mais chance de mudança: entre a escolha de uma vida que poderia ser transformada, e outra banal sob a tirania, escolheu a segunda. Ficou cabisbaixo porque não tinha alma e passaria a eternidade inteira proibido de tudo e sem salvação alguma.

-Und das Atmen fällt mir, ach, so schwer
Weh mir, oh weh
Und die Vögel singen nicht mehr****…

*Além, além até a desgraça
**Devemos amar até morrer
***Eu vou estar com você para sempre
**** E o ar está óh tão pesado/Dói-me, óh dói-me/E os pássaros não cantam mais
(Rammstein)

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