Lembra-te que do pó viestes e ao pó, hás de retornar

Não lembro ao certo, mas uma noite estava em casa e precisava urgentemente de um cigarro. Olhei por todos os cômodos procurando algum para que fosse devidamente utilizado e não ficasse por aí de bobeira num mundo violento. Lá pelas tantas desisti da busca eterna e resolvi descer até o botequim mais próximo e gastar meu suado dinheiro com coisas inúteis e viciantes.
Descobri que cigarro não é igual a cerveja: quem nunca chegou em casa num dia quente, abriu a geladeira e por obra do acaso encontrou uma lata cheia no fundo da prateleira? Pois bem, cigarros tem vida própria e não ficam presos ao dono.
Fui até o bar e comprei meu maço de cigarros. Voltava tranquilamente pela calçada e aproveitava para ver as pessoas caminhando de um lado pro outro.
Em certo momento, ao meu lado apareceu um rapaz que segurava uma sacola na mão:

– Quer um tiro!?

Nessa hora, eu gelei e comecei a apalpar os bolsos procurando alguma coisa para dar a ele: algo que valesse minha vida.

– Não tenho nada, cara… Só umas moedinhas e um maço.
– Não seja idiota – ele respondeu- Estou falando de pó!
– Ah… Cocaína!- falei um pouco alto.
– Fala baixo, véio! Quer me foder!?… Vai querer ou nem?
– Nem, cara… Hoje eu to bem tranquilo…
– Beleza, cara! Se quiser é só subir até a próxima rua e me procurar…
– Opa! Valeu, fera!
– Falou!

E foi assim: pensei que fosse uma coisa e era outra. O que mais me assustou foi a sacola na mão dele e o jeito que ele disse “você quer um tiro”…
Uma combinação nada amistosa de imagem e discurso.
Já dentro do prédio, enquanto subia pelas escadas ri da situação e lembrei de uma passagem bíblica: “Lembra-te que do pó viestes e ao pó, hás de retornar”, ou algo parecido com esse gênero de conduta cristão. Esse tão famigerado pó…
Contudo, faz um longo tempo que não piso em solo sagrado. Não há necessidade de estabelecer alguma relação entre o cristianismo e os vícios da vida. Então prefiro para essa situação uma música do The Clash chamada “Hateful”, que combina tanto com o bairro quanto com a vida de qualquer jovem perdido à noite na imensidão da cidade grande:

Oh, anything I want he gives it to me
Anything I want he gives it, but not for free
It’s hateful
And it’s paid for and I’m so grateful to be nowhere.

A noite não é para os fracos… Nem para os desatentos!

Por Deus e pela Pátria

Ontem fui com minha namorada assistir ao filme “O Cavaleiro Solitário”. Mas de uns tempos pra cá, tenho certa “aversão” ao circuíto comercial, por ser extremamente repetitivo na temática, além da chatice de ir ao cinema num shopping qualquer e ver aquela gente bonita e feliz se entupindo de compras… Mas isso não importa agora!
Achei o filme interessante em certo sentido, ainda mais sabendo que Johnny Depp é descendente direto da tribo cherokee e dele interpretar nesse longa-metragem, um índio comanche chamado Tonto…Tudo bem apesar das diferenças tribais!
Em alguma momento da película, uma cena me chamou atenção em especial: um general precisa entrar em confronto com a tribo que está se aproximando da linha de trem, que foi construída em território indígena, e esse fato rompeu um acordo entre homens brancos e índios. Com a aproximação dos guerreiros comanches, o general diz: “Por Deus e pela Pátria”, fazendo um ataque que dizima o grupo.
Ao sair do cinema, comentei com minha companheira sobre essa cena específica e fiquei pensando que na nossa história recente, o progresso passou a galope sobre nossas cabeças, e principalmente daqueles que não são ditos como padrões numa “cultura” com senso urbano “sofisticado” e pensamento desenvolvimentista até a medula.
Depois da sessão precisava voltar para casa, então ela me deu carona até a Avenida Paulista e eu desci tranquilamente pela rua onde moro.
Ao cruzar uma esquina qualquer, um rapaz meio mancando, meio bêbado, subia na minha direção, mas nesse instante um casal de homossexuais que estava à minha frente foi abordado por ele.

– Tem alguma coisa?
– Só umas moedas pode ser?
– Deus tá vendo…
– Toma aqui…
– Obrigado, e Deus tá olhando por vocês…

O rapaz parou na porta do bar e gritou para o atendente que queria um misto quente. Se ele foi atendido, eu não sei, porque continuei a caminhada.
Enquanto descia e me aproximava da rua Peixoto Gomide, um rapaz guardava uns carros em frente ao bar “A Loca” que é frequentado pelo público GLBT, além dos simpatizantes ou aqueles que estão de bobeira pela região. Nesse instante, percebi que dois casais, um de mulheres e outro de homens, entravam num carro que o “flanelinha” cuidava.

– E o dinheiro? Seus bando de bicha… Seus merda! Por isso todo mundo odeia bicha e sapatão, até deus! Filhos da puta!

Os gritos eram estridentes e o pessoal do bar ficou perplexo olhando o escândalo. O carro partiu, mas o rapaz continuava irritado. Fui passando um pouco mais rápido porque poderia sobrar pra mim, já que em momentos de fúria as pessoas realmente agridem qualquer um que estiver pelo caminho.
Morando um bom tempo no centro da cidade, já estou acostumado com a “diversidade” sexual e não me incomodo nenhum um pouco com casais homossexuais se abraçando ou beijando na minha frente. Eu não sei dizer se isso é normal ou não, mas pouco me importa. Se há uma busca por relacionamento e atração física, ou puramente amor sem nada demais, que mal há nisso? Se algumas pessoas soubessem que boa parte da História foi feita por gays (ou qualquer nome que se dê para isso), negros, judeus, islâmicos etc. Logo mudariam seu discurso de ódio e seriam um pouco mais tolerantes. O que por vezes é um avanço tremendo.
Ontem a noite mesmo refleti sobre os acontecimentos das cenas vistas, tanto no filme quanto na vida real, e me pergunto qual é a verdadeira noção de Deus: seria Ele um sádico e cruel, que vive feliz ao ver seus filhos criados à sua imagem e semelhança, cometendo atrocidades em Seu nome? Seria Alguém bondoso que olha por todos, de maneira igual, sem nenhum tipo de distinção? Ou apenas mais uma criação humana cheia de vícios e virtudes que flutua por aí, como quem não quer nada, e fica de “tocaia” esperando o momento certo de agir?
E a Pátria? Será alguém de patente militar qualquer, disposta a atacar aquilo que de alguma forma saia do padrão de funcionamento da hierarquia? Ou um território “paterno” que visa somente o progresso varonil acima de qualquer individuo?
Não sei ao certo se são essas perguntas que fazem o mundo girar, como também desconheço qualquer resposta possível. Contudo, para as perguntas tenho apenas uma resposta vazia: pela Pátria nós construímos um mundo intolerante; e por Deus, fazemos atos inimagináveis.
Entrando em casa fui recepcionado pela minha vira-lata que não tem pátria, quanto menos Deus. Acredito que ela está bem satisfeita assim…

Cosmopolita

Ontem precisava ir ao oftalmologista para uma consulta. Desde o dia em que descobri ser míope não largo meus óculos por nada nesse mundo. O exame estava marcado para às 14h40m. Então na noite anterior fui dormir um pouco mais cedo, para poder dormir mais e acordar mais tarde. Mas, quando tudo parecia estar sob controle, a veneziana ( é assim que se chama aquele troço pendurado do lado de fora da janela?) resolveu despencar. Tudo foi tão rápido que não consegui gritar e nisso avisar quem estava passando. Por sorte, a janela fica acima de um telhado. Porém, a moça do primeiro andar saiu desesperada na janela para ver o que tinha acontecido, pois o barulho foi tremendo. Alias, acho que ela pensou que era uma bomba: quando eu olhei para baixo para ver o estrago, ela olhou para cima e vi seu rosto pálido. De duas uma: ou estava maquiada em excesso parecendo manequim de funerária, ou realmente foi um susto daqueles. Logo eu interfonei para o zelador e avisei o que tinha acontecido. Prontamente ele avisou o rapaz da limpeza, que apareceu para ver se algo estava quebrado e pegou a pobre veneziana espatifada. Dos males o menor.
Como o consultório é próximo do prédio onde moro decidi ir a pé, assim não gastaria condução, além de dar uma volta e esticar o esqueleto.
Descendo a rua Augusta, que sem mais nem menos muda de nome para Martins Fontes, percebi uma movimentação diferente: havia uma passeata, na avenida Paulista, realizada pelos sindicatos. Nada mal, afinal de contas todos já sabiam antecipadamente quando seria, porquê seria, além do horário que aconteceria.
Contudo, sempre tem aqueles mesmos chatos de sempre que são contra qualquer coisa que atrapalhe sua “vidinha”.
Estava esperando no farol para atravessar o cruzamento próximo à Biblioteca Mário de Andrade, quando dois rapazes estavam conversando sobre a manifestação.

– Mas hoje é mais perigoso que das outras vezes. Fiquei sabendo que eles andam armados…
– É verdade. Melhor ir direto pra casa hoje, sem passar pela Paulista.
– E você continua morando na Penha?
– Claro, lá é nóis! A família inteira mora lá…
– Vamo naquele rolê?
– Suave… bóra!

Peguei o papo pelo meio, mas acho que estavam falando mal dos sindicatos. Enquanto atravessava pensei: qual a finalidade de alguém que trabalha no centro da cidade e está próximo ao metrô Anhangabaú (linha vermelha), ir até à Paulista (linha verde) para voltar para casa que fica na Penha (também linha vermelha)? É um mistério que nunca decifrei e nem pretendo.
Chegando ao prédio do consultório fui até a recepção para me identificar e pagar um cartão magnético para atravessar a catraca. Todavia, o negócio não funcionava e não liberava a minha passagem. Ou seja, tive que entrar pela saída: depositei o cartão num buraco qualquer, mas a catraca só girava no sentido inverso, então me contorci até conseguir passar. Peguei o elevador que estava abarrotado e todos olhavam para minha cara, pois tinham presenciado meu sofrimento, mas em nenhum momento foram solidários.
Cheguei ao consultório na hora marcada e percebi que na sala de espera tinha uma mesa com revistas das mais variadas possíveis: Veja (edição de Abril), Veja (edição de Maio), Veja (edição de Junho), além de um televisor ligado na Globo News, que naquele momento passava um tal de “Estudio i”.
Fiquei espiando o programa que parecia ser engraçadinho: uns comentaristas babacas, com uma apresentadora mais perdida que osso em boca de banguela. Entre uma pauta e outra, mostravam as manifestações pelo Brasil, e sempre que voltava ao estúdio, ao vivo, alguém deles comentava com “conhecimento” de causa sobre o tema e faziam algumas análises sobre “democracia”, “movimentos populares”, etc.
Enquanto me distraia o médico me chamou: fiz os exames e para minha felicidade a miopia estagnou. Como tudo foi rápido, decidi tomar um café no Shopping Light, que é ali próximo também.
Desci pela Quirino de Andrade e fui observando os transeuntes. Se existe uma coisa extremamente engraçada em São Paulo é observar as pessoas no centro da cidade: parecem formigas indo de cá para lá, lá para cá, algumas apressadas falando ao celular; outras andando tranquilamente; os batedores de carteira sempre parados ou fingindo estarem perdidos, etc. Sem contar os vendedores ambulantes, que naquela hora poderiam faturar muito devido ao movimento.
Notei que os nigerianos vendiam relógios, bolivianos faziam suas barracas para colocar à venda suas roupas típicas, além de estarem sempre acompanhados de suas flautas-mágicas… Um outro grupo vendia alguma coisa parecida com feijão, só que verde.

– Amigo, isso aí é o que?
– Quér quanto?
– É tingido?
– Não, faço um saquinho por três.

Acho que ele não me entendeu e vice-versa. Coisas da metrópole.
Já estava quase chegando ao shopping, quando me deparei com uns artistas de rua: uma dupla de “embolada”, vinda de não sei onde, que fazia umas rimas engraçadinhas com os espectadores. Trocavam sua arte, por um punhado de moedas. E nisso me veio na cabeça o conto do Franz Kafka chamado “Um artista da fome”…
Porque em São Paulo é assim: cosmopolita até a medula.
Os sul-coreanos escravizam bolivianos no Bom Retiro. Os bolivianos chegaram aqui, graças aos baianos, sergipanos, paranaenses, gaúchos, que construíram estradas, ruas, e que também são operadores do metrô ou motoristas de ônibus.
Aqui todos os gêneros, povos e credos se reúnem para serem explorados.

Gato por Lebre

Certa vez, num sábado qualquer a noite estava sentado no sofá da sala assistindo televisão, trocava os canais por puro tédio, por não ter nada interessante passando naquele momento. Resolvi dar umas baforadas e levantei em direção à cozinha para buscar um maço de cigarros quando ouvi um barulho. Pensei que se tratava do vizinho de cima do meu apartamento, pelo tamanho impacto e proximidade do som. Por falar no meu apartamento, a janela da sala tem como vista privilegiada uma boate na Rua Augusta, no baixo centro de São Paulo.
Ah, Rua Augusta, o ambiente que nos finais de semana as “coisas” acontecem: “coisas” se tratam de qualquer tema da vida adulta como bebedeiras, sexo, drogas e por vezes um pouquinho de rock’n’roll. Antes porém, preciso deixar algo claro: o baixo centro da cidade é popularmente conhecido como “zona de meretrício”. Qualquer habitante do mundo sabe, ou deveria saber disso, pois são palavras mágicas: saíram da boca de um feiticeiro e de tanta repetição estão sob domínio do público, tanto dos crédulos como dos incrédulos. Também pudera, a cada trinta passos avista-se um bordel qualquer, apropriado para a recreação sexual (Desculpe-me, “tucanei” a putaria!): desfilam rapazes, garotas, travestis, hermafroditas, etc. Um leque de oportunidades para a satisfação!
Voltando ao assunto, coloquei meu cigarro aceso no canto da boca e olhei discretamente para o relógio na parede que marcava 00H15 e apesar de ser uma rua conhecida por sua agitação noturna, tudo estava tranquilo, na mais perfeita ordem. Mas onde tem muita tranquilidade e ordem, tudo pode e deve acontecer…
Sentado novamente no sofá, entre um trago e outro, começo a escutar duas vozes conversando. Mas a distância da janela da sala para a rua é enorme, então o volume do diálogo está baixo. Ainda mais que em frente há um terreno com uma construção e os tapumes abafam o som. Por sinal, em breve, o prédio tampará por completo minha visão para a calçada.
A conversa daquela distância parecia então, um sussurro que não se identificava, mas ao que tudo indicava deveria ser de um casal apaixonado trocando carícias. Enquanto os dois sussurravam, eu assistia a um filme tranquilamente, terminando meu cigarro e apagando a bituca no cinzeiro. Quase na mesma hora recebi a ligação da minha namorada querendo conversar sobre o dia tumultuado que tivera. Ficamos conversando, e papo-vai, papo-vem, quando ouço novamente um estrondo vindo da rua como se a porta de um carro fosse fechada com toda a força. Até aquele momento fiquei prestando atenção somente na minha conversa, e assim, completamente alheio ao mundo exterior. Só que o mundo externo nos proporciona momentos de distração terríveis, ainda mais se estamos ao telefone: a voz do outro lado some por completo transferindo nossa atenção para qualquer outra coisa.
A porta do carro batida poderia ser um sinal de nervosismo. Quer dizer, primeiramente eu suspeitei, mas logo soube da verdade: um homem resolveu gritar pela rua que havia sido enganado.
O destempero era tamanho que a cada palavra dita, uma vírgula de palavrões era utilizada. Não sou nenhum moralista a ponto de recriminar o uso tão corrente do palavreado de baixo-calão, mas utilizá-lo como vírgulas, ponto-vírgulas ou reticências é no mínimo esquisito. Mesmo escutando os berros, não havia entendido nada do que tanto reclamava. Pedi para minha namorada desligar o telefone e logo mais eu retornaria. É óbvio que estava curioso! Quem não estaria?
Feito isto fui até a janela para ouvir melhor o que se passava e rapidamente sou pego de surpresa por uma risada abafada vinda da rua parecendo ser de uma mulher. Pelo que entendi da gritaria do sujeito, ele a conheceu parada na esquina, conversaram um pouco e combinaram um “programinha”. Com a realização do trato, houve um pagamento adiantado. Apenas desconfio que isso está na origem da volúpia excessiva para conseguir o “material”. Logo depois de fecharem o acordo “carnal”, resolveram dar uma volta com o carro e procurar um “ninho de amor”: a donzela escolhida e o príncipe em seu mustang. Tudo de um jeito muito simples e minimalista.
Digo isso somente porque juntei o som que ouvi do primeiro impacto com o do segundo. Imaginei a situação e montei o cenário.
Mas voltando ao assunto da discussão, tamanha era a ferocidade do rapaz que poderia ser muito bem que ele tivera algum descontentamento com o serviço e estivesse cobrando satisfações do “cafetão”. O que seria muito justo! Se tudo estava certo, por que daria errado, não é mesmo? Pois é…
Confesso que naquela madrugada, também fui enganado e minhas considerações foram por água abaixo quando houve uma revelação surpreendente: não havia mulher alguma, e sim, um travesti!
Não vou “tucanar” o texto e dizer que era um transgênero, até porque conforme as afirmações do furioso sujeito, não havia nada de “trans”, e o “gênero” era bem definido.
Sob tamanha pressão, desespero e aflição, o rapaz gritava sem nenhuma timidez ou pudor, entre um palavrão e outro, que ela tinha um “pinto”! Mas, não era um pinto qualquer… Era um pinto com P maiúsculo!
Comecei a rir sem nenhuma piedade. E as lágrimas brotavam em meus olhos, e até acendi outro cigarro para contemplar a anunciação e festejar com os moradores dos outros prédios que saudavam nosso herói. Passada a crise de gargalhadas compreendi melhor o riso abafado e cínico da “moça”, que escutei momentos antes do berreiro ensandecido. Confesso que fiquei receoso pela “garota”, pois todos sabem que existem milhares de casos de violência contra prostitutas, travestis, etc. Sobretudo quando se está na mira de um sujeito extremamente irritadiço e totalmente exposto, que era ridicularizado por um dúzia de piadas das pessoas que saiam à janela para testemunhar a sua desgraça. Faltou apenas um choro infantil do falastrão para deixar a cena ainda mais surreal.
Cena tal que não vi, mas ouvi e disso montei o cenário completo.
Por sorte nada de mais grave ocorreu. O rapaz voltou para o carro, sem nenhum tostão de retorno. Daí eu pensei: caso ele seja casado algumas explicações sobre a falta do dinheiro terão que ser dadas e possíveis mentiras serão contadas; sendo solteiro (tomara que seja!), tende ser mais fácil reaver a quantia sem maiores explicações.
Não levou o dinheiro, e sim, o escárnio do travesti diante da situação bizarra que passaram. Levará também minhas singelas gargalhadas e lágrimas, além dos aplausos efusivos e irônicos dos espectadores. Aquele deve ter sido o pior dia da vida do sujeito. Um dia qualquer para o travesti. Um dia curioso para mim e os galhofeiros.
Depois de passada essa situação, eu penso o seguinte com os meus botões: será que nesse caso específico, o sujeito poderia requerer o Código de Defesa do Consumidor em alguma instituição especializada e procurar algum artigo, emenda, ou qualquer elemento jurídico, que pautasse seu dano em “propaganda enganosa”? Bem, acho que não… Não sei se há algum tipo de legislação específica que trate desse assunto: travesti, prostituição e propaganda enganosa na mesma construção sintática.
Pois bem…
Morar no centro da cidade é um espetáculo à parte: um teatro mambembe, com atores caricatos, além dos textos escritos pelos melhores autores!
Em tempo: não retornei a ligação, porque já era madrugada. Não poderia acordá-la para contar essa história, sem sombra de dúvidas ele iria odiar.